terça-feira, 15 de setembro de 2009

Carta XIV

Hoje abro mão de ti...Porque te arrancaram de uma forma brutal de mim, há coisas que não tive tempo de te dizer. Não nos deram tempo para um último beijo, para dizer-mos Adeus. E durante estes anos, foi-me difícil admitir que não te tinha, que te perdi.Vezes sem conta, nos dias em que sentia mais a tua falta, dei por mim a imaginar conversas contigo. Não, conversas não, a última conversa caso tivesse a oportunidade de te ver mais uma vez, onde te agradecia o facto de teres entrado na minha vida, de me teres mostrado o que era afinal o Amor e onde te dizia a palavra que nunca te cheguei a dizer: Amo-te

Roubaram-te de mim e levaram-me as crenças, as certezas e o sorriso. Desde que partiste que não acredito em Deus, não acredito no Destino, não acredito em Justiça e não acredito em Contos de Fadas. Roubaram-te de mim, mas não me me podem apagar a memória.
A forma violenta como deixaste a minha vida fez com que não conseguisse abrir mão de ti, de nós. Tentei manter-te para sempre em mim, mas o tempo, esse maldito, foi fazendo com que me fosse esquecendo dos pormenores mais pequenos. Não posso manter-te para sempre, eu sei.
Há momentos que passámos que estão gravados em imagem na minha cabeça, como telas pintadas. Se fechasse para sempre os olhos já amanhã, as imagens que levaria comigo seriam as dos momentos que passámos juntos. Todas as telas, todos os beijos, todo o romance.
Vou recordar-me sempre...
Da forma como nos conhecemos, digna da primeira parte de uma comédia romântica. Eu estava numa cidade estranha, pela qual me apaixonei assim que cheguei. Fui com uma amiga a um bar, onde me convenceram a ir para trás do balcão servir bebidas. Achei graça e aceitei passar lá a noite a trabalhar. Chegaste com os teus amigos e ficaste sentado na esplanada. Ficaste com um ar surpreso de me ver lá, afinal eras cliente habitual. Fitavas-me com os teus olhos grandes de um castanho mel profundo. Depois de uma quantas rodadas, toquei-te levemente na mão ao devolver-te o troco. E desatei a rir ao ouvir-te dizer "Ela tocou-me!"
Pouco depois perguntaste-me baixinho: "Vamos fugir?". Disse-te que sim. Ajudaste-me a subir para a tua moto e andámos pelo meio do nada...vagueámos pelas ruas enquanto me agarrava a ti, cada vez com mais firmeza. Quando a moto parou e te viraste para trás para me perguntares se queria voltar para o bar, roubei-te um beijo. Nunca mais nos largámos.
Não me esqueço do desenho dos meus pés quentes no capot frio do teu carro, em noites de Verão junto ao rio. Sentava-me descalça em cima do teu carro enquanto tu atiravas pedrinhas ao rio, e nas palavras que me ias dizendo, atiravas-nos a nós para um futuro longínquo. Chamava-te tonto, dizia-te que não gosto de fazer planos, mas tu, obrigavas-me a acreditar que o futuro da palavras que te saíam pela boca faziam todo o sentido. Ias olhando para mim, na esperança de que desatasse a concordar contigo, a sonhar, e a conseguir dizer as mesmas palavras que tu. Eras rebelde, achavas que não precisávamos do resto do mundo, porque tínhamos tudo...
A forma que arranjaste para me pedires para ser tua, para namorar contigo. Levaste-me a uma praia onde nunca tinha ido, a praia da Amorosa. Escreveste amor na areia, ofereceste-me uma rosa. Não dei logo pelo trocadilho, pelo jogo de palavras. Abraçaste-me com força e ficámos a ver as ondas a rebentar na areia, enquanto enrolavas os dedos no meu cabelo. O sol já descia e fazia o mar espelhar as nossas silhuetas, os nossos silêncios, os nossos beijos.
Vou levar comigo o sabor dos teus beijos, do nosso beijo que tu garantias pode "distinguir entre um milhão" o toque quente das tuas mãos, tua respiração na minha nuca, o brilho dos teus olhos e o teu sorriso perfeito, os teus braços à volta da minha cintura e o teu abraço apertado, tão apertado... e a música, aquela nossa música...que meto a tocar cada vez que preciso de abafar o choro das saudades que tenho de ti. Nunca mais voltei aquela cidade, nunca mais fui aos sítios onde estive contigo. Falta-me a coragem. Mas um dia vou...
Na última vez que te vi senti uma coisa estranha, ainda hoje não sei explicar qual foi a sensação. Nenhum dos dois queria em embora, dizer adeus. Insistias em perguntar-me o que se passava, se estava triste e eu não te conseguia explicar. Não te queria largar, não queria que fosses para longe de mim. E quando foste senti um tremor no peito... Não te voltei a ver e pouco depois soube que te tinha perdido. Fiquei estática, não reagi, não disse nem fiz nada. Só quando percebi que não ias aparecer ao encontro no dia seguinte, sim porque eu fui para lá à tua espera, é que soube que nunca mais te ia ver. Culpei-te a ti, culpei Deus, culpei-me a mim de não te ter feito demorares-te mais tempo...
"Tens que passar à frente, seguir em frente. Tens que abrir mão desse amor para poderes ser feliz", dizem-me os amigos. Não é fácil, mas sei que têm razão. Mas como te posso esquecer se não tenho uma única má memória para recordar? Como?Um destes dias estava a ver as nossas fotos. Há uma em Ponte de Lima, lembras-te? Aquela que tirámos perto de um pequeno altar escondido debaixo da ponte? Tínhamos um ar tão feliz que a pus numa moldura. Mas veio logo uma amiga, que sei que só quer o meu bem, reclamar que não tenho o direito de te fazer isso. "Ele não pediu para estar na tua parede, isso só te faz mal. Ele não ia querer isso. Tens que o deixar ir, tens que o deixar descansar em paz". As palavras dela magoaram-me, a quente chorei o facto de ela não conseguir perceber a magia daquela foto. Mas agora, sei que ela tem toda a razão. Não te posso manter à força na minha vida e tenho mesmo que seguir em frente. Por isso é tempo de abrir mão de ti, de te deixar ir. Faço-o agora mas prometo-te que nunca te vou esquecer, isso sei que é uma coisa que não ias querer. A nossa história não merece cair no esquecimento. E há amores eternos, mesmo que voltemos a sentir amor por outra pessoa...
Por Pipoca
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Obrigada à Pipoca pelas cartas que enviou.
É esperar pelas próximas publicações ou podem ir lendo no seu fantástico blog.
Entretanto, inspirem-se, escrevam e enviem. Mais aqui.

9 comentários:

Nuvem disse...

Adorei, como todas as que publicaste.
E sei a dor de perder um amor assim... dura para sempre, não há tempo que cure... porque é arrancado.
Mas a vida tem muitas surpresas e quando menos se espera... a dor fica escondida por baixo de uma nova paixão, um novo amor!

The Cherry on Top disse...

Já tinha lido este texto no blogue da Pipoca. E tal como naquele dia...fiquei sem palavras.
Não consigo sequer imaginar o que será passar por uma situação assim.
Mas sim, há amores que ficam para sempre. Mesmo que voltemos a amar...

S. C. R. disse...

Simplesmente perfeito.
Ao jeito da pipoca saltos altos, que eu adoro...
Das cartas mais bonitas que eu já li aqui...

Pipoca dos Saltos Altos disse...

Faz este mês sete anos que ele morreu, achei que esta carta fazia todo o sentido. Obrigada a todos. Pelo carinho, pelas palavras.
Pipoca dos Saltos Altos

:) disse...

Opá, sou homem e, por isso, como vocês meninas dizem, menos sensível, mas caramba... que amor lindo que a Pipoca viveu. Chega a meter inveja! Que rapaz romântico, aquela cena da Praia da Amorosa, é simplesmente uau!

E sim Pipoca, nunca te esqueças disto: "roubaram-te de mim, mas não me me podem apagar a memória".

(Pipoca, desculpa perguntar, sei que te magoa, mas...) Fogo, não dá mesmo para voltarem?

:) disse...

:S Não tinha lido o comentário da Pipoca. :/ Sorry, grande merd@.

Nesse caso, não vejo mal nenhum em guardar os momentos bonitos em fotos emolduradas.

Pipoca dos Saltos Altos disse...

Gimbras, é isso...guardar as imagens e momentos na memória...

:) disse...

Um abraço de conforto, Pipoca.

Pipoca dos Saltos Altos disse...

Gimbras.nofuturo.com,
Já passaram alguns anos, estou bem, e sinto-me priviligiada por ter vivido aqueles momentos. Já não dói, faz-me sorrir.