sábado, 30 de outubro de 2010

Carta LV

“Not only is it harder to be a man, it is also harder to become one.”
Arianna Huffington


First things first. A tua carta já garantiu o lugar nas coisas mais épicas que li este ano. Deixaste os teus primos embasbacados, quase ao ponto de me fazer inveja, quer dizer, pensava eu que tinha esse exclusivo, mas não, deixas-me a mim e a eles super orgulhosos, e dás argumentos à minha tese, de que na nossa família se escrevem coisas que vale a pena encaixilhar.

Agora a outra parte, a mais importante, aquela que fez com que eles decidissem que eu é que devia responder. Fogo, tu és das pessoas mais inteligentes que eu conheço, e é por isso, que não há mínima hipótese de tu não fazeres ideia do sermão que te espera. Mais, este sermão deve ter sido o objectivo desde o início. Seu manipuladorzinho dum raio! Mas não faz mal, nós gajos somos como super-heróis, que tanto podem estar nos seus empregos normais, quando de repente já estão a dar uma coça a criminosos, em que “empregos normais” é sermos internacionalmente conhecidos como directos e lógicos e “prender criminosos” é apaixonares-te pela rapariga mais gira da escola e começares a não dizer coisa com coisa. Assim tipo, como está a acontecer contigo! Eu sei, eu fui proibido pelo médico de fazer analogias, mas fica difícil, eu vejo demasiados filmes com bons símbolos, e por isso acho que devo estar quase a ficar bom nisto.

Bem, isto tem que ser dito quanto antes. Ela já sabe que tu queres “construir castelos de areia” com ela (argh, devo estar numa daquelas crises), elas sabem sempre, acho que devemos ter neons na testa a anunciar o facto, ou então é aquela treta do sexto sentido. De qualquer das formas, estás em má posição, estás desconfortável, porque desde que ela percebeu isso e não se foi embora, e acredita, ela ia sublinhar e marcar com marcador fluorescente o “ir embora” de forma a tu perceberes, que começou mais ou menos a contar os minutos para tu seres tu, sabes?

Tu, chavalo de 16 anos [eu queria tanto essa idade, é como ter 18, mas sem a pressão dos exames e metade da responsabilidade], meu primo favorito, que te encantas com a Audrey Hepburn a ser Audrey Hepburn, que fazes proezas no Hóquei, que dizes as melhores piadas nas passagens de ano, e que és imbatível no Trivial Pursuit, tens tudo e ninguém te agarra! Pegas nesse monte de coisas que vai aí dentro e com que arrasaste naquela carta e tens a ideia da tua vida para ela. Nós somos rapazes, podemos nunca ter a certeza de que ela gosta de nós, não vamos aos detalhes, e como eu disse, ficamos parvos, mas nós agimos, temos a mania, somos confiantes, e temos um sentido de humor especialmente desenhado para as divertir, por isso, ela continua parada à tua espera, que sejas rapaz, ou melhor ainda, que tu sejas homem.

Sabes que mais, pergunta a qualquer pessoa, quando é que pensaram pela primeira vez que estavam adultos. Se calhar vais-te surpreender com as respostas, é que não vão ser sobre quando fizeram isto, ou quando conseguiram aquilo. As respostas vão ser sobre o quando e o quanto sentiram nalgum momento. Ok, eu diria que foi quando dormi com uma pessoa 13 anos mais velha do que eu no meu primeiro e único ano de faculdade, mas há as excepções, tem que haver, certo? E não é isso que importa aqui. O que eu estou a tentar dizer é, que é nestes momentos em que tu tens de perceber se estás pronto para ir buscar a vida que queres para ti, porque rapaz, vai ser a viagem mais louca da tua vida.

Pergunta a ti mesmo, vês-te a escolher estes momentos daqui a 10, 20 anos, como os dias em que viste que estavas um homem? Dá-te vontade de agir como um é suposto, quando dizes que adormeces sempre a pensar em várias cenas do mesmo filme, num cenário mais ou menos perfeito, mais ou menos irreal, contigo deitado no colo dela num banco de jardim, enquanto lês as tuas BD’s japonesas (eu sei que se chamam mangas! Calma!) e ela com um dos seus “Jane Austen”? Ou talvez naquela em que a vais levar a casa e esquecem-se das horas, sentados nos degraus do prédio, a tentar convencer o outro de que o vosso desenho animado favorito é o melhor da vossa geração? Se sim…

“Arianna parece-me nome de gaja” estás tu a pensar correctamente, “o que é que ela sabe sobre o quanto custa tornarmo-nos homens?” perguntas em tom rebelde. Ao que eu respondo, que ela fundou um blog, onde já postaram o Obama e a Madonna! Eu acho que só por isso já devemos considera-la uma especialista em qualquer assunto, tipo sei lá, o Moita Flores. Agora a sério, ela vive num mundo da política, que ainda é muito um clube de homens, e deve ter conseguido perceber a nossa essência entre os vários números de circo.

Eu acho que ela está certa. Talvez seja mais difícil tornarmo-nos homens porque as pessoas pensam que é o mais fácil. Com isto tudo, estou a tentar dizer-te que não é, e que vão ser essas mesmas dificuldades que te vão lembrar o quanto tu queres aquilo por o qual estás a lutar. Neste caso, começas com uma nobre donzela. É uma missão do caraças, até podes imaginar que a vais resgatar de um dragão, se é que é precisa mais motivação (Rima!) ou se gostaste do Shrek, mas lembra-te, e isto é tão importante, que ela também se está a tornar uma mulher. E tu tens que saber, que só há três coisas que todas as mulheres gostam em doses pouco saudáveis. Falar, chocolate e apaixonarem-se. Para a primeira, elas tem as amigas, para a segunda tem os supermercados, e para a terceira tem-nos só a nós, homens. Sortudas.

Podes ler esta carta mais duas ou três vezes, mas depois sai. Faz qualquer coisa!


Aquele group hug dos teus primos,
David

P.S- Tens de parar de ver tantas comédias românticas. Olha-me para esses sonhos pá!


 
 
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E amanhã, queridos leitores, vou conhecer o David :)

4 comentários:

Gabriel disse...

Sortuda.

Sofia disse...

Adorei :)

Morah disse...

"só há três coisas que todas as mulheres gostam em doses pouco saudáveis. Falar, chocolate e apaixonarem-se. Para a primeira, elas tem as amigas, para a segunda tem os supermercados, e para a terceira tem-nos só a nós, homens. Sortudas."


Gostei =)

Vera disse...

:)