sexta-feira, 25 de março de 2011

Carta LXXI

Estive 2 anos contigo, dois anos de respeito, dois anos em que fingi que não se passava nada, 2 anos em que tu, como meu mestre, não podias mostrar mais do que o permitido, mesmo que por mim tivesses mais que afecto. Eu superei, deixei de lado, estive com outras pessoas, amei, odiei, desisti. ESQUECI-TE! Quando o meu coração acalmou no peito, quando tu saíste da minha vida, volto e deparo-me contigo novamente e mais uma vez, como mestre. Como fingir? Como aceitar que por ti devo respeito, como acalmar o coração que em pulgas desejava-te? Como fazer com que a razão prevalecesse? Quem aceitaria que a boa aluna afinal gostava do mestre? Ironia das ironias, para além de mestre, eras músico. E a tua paixão pela música, e a minha pelo teatro voltou-nos a juntar no mesmo espaço. Lembro-me bem de teres chegado atrasado à reunião "Desculpem não consegui vir mais cedo!". Antes do meu cérebro processar estas palavras, o coração já batia mais forte e eu soube que eras tu, outra vez! E nesse espaço éramos iguais, não havia mestre, não havia aluna. Éramos os dois presidentes, tu no clube de música, eu no clube de teatro. Podias ter continuado com a tua pose superior, podias ter-me passado a imagem de mestre mas não...sorriste! Trataste-me como igual. Fizeste com que o meu coração pensasse que era possível, que o sentimento que nutria por ti, finalmente ganharia asas para voar por si. E no dia seguinte, mestre outra vez, outra vez o distanciamento, outra vez o impossível. Não contava com isso. Acabou, eu desisti, o meu coração acalmou. Esqueci-te! E um dia decidi que daria um novo passo para o meu futuro, e lá estavas tu de novo como mestre. Voltou tudo ao mesmo. Os trabalhos multiplicavam-se, a boa aluna tinha que se dedicar a muitas cadeiras, afinal era Bolonha, era preciso fazer mais cadeiras que o normal p'ra não chumbar, eu precisava esquecer-te. Tu quiseste trabalhos extras. As minhas colegas de grupo marcaram contigo no teu gabinete sem me consultar. Avisar-me em cima da hora que teria um encontro contigo, como chefe de grupo a sós no teu gabinete. Como? Eu argumentei, eu refilei, eu (não) quis...eu fui! Eu bati, eu entrei, estavas sentado atrás da secretária e a música que passava era "Me and Mrs Jones" na voz do Michael Bublé. Cantarolavas baixinho seguindo a letra e assinando papéis, eu entrei tímida, o coração pulava no peito de alegria, rejubilava com esse encontro, a razão entrava em pânico. Levantaste e apertaste-me a mão, sorriste! Não me deixaste falar, já sabias ao que eu ia...explicaste, gesticulaste e apontaste enquanto eu seguia os contornos da tua boca, das tuas rugas, os botões desabotoados apenas no colarinho. Eu divagava. No sonho, perguntaste se gostava, eu respondi que sim e tu refilaste...eu acordei! Era sobre o trabalho que falavas. Eu não ouvi nada, mas disse que sim a tudo, ia ser bonito quando eu reunisse com as minhas colegas. Tudo seguiu, a vida seguiu, tu como mestre e eu como aluna.
Passaram-se 6 anos, divorciaste-te e ao saber nasceu uma réstia de esperança e ao mesmo tempo o meu coração apertou, preocupou-se com o teu estado, preocupou-se com a tua filha como se eu fizesse parte da tua vida. Encontramo-nos de novo, perguntaste-me como ia o teatro, encontramos-nos num concerto, e tu perguntaste-me como ia o meu desporto favorito...a razão sobressaltou-se, tu sabias que eu praticava esse desporto, sabias que o surf fazia parte da minha vida. No átrio de entrada para o concerto miraste-me da cabeça aos pés, eu percebi que paraste nos meus saltos vermelhos mais tempo que o necessário...gostaste do que viste, uma mulher percebe, sorriste quando eu sorri. Hesitaste...querias parar e conversar, eu também queria, mas o que iria eu dizer, como fazer conversa sem revelar o meu segredo e o que diriam os meus amigos ali ao pé?
Passaram muitos meses, continuas livre pelo menos é o que diz a tua página no FB, eu continuo livre, hoje não és meu mestre, eu não sou a aluna e mesmo assim as palavras custam a sair, receio revelar o meu segredo para no momento seguinte ter uma desilusão. Nos meus sonhos tudo é perfeito e custar-me-ia muito se o meu castelo desabasse. Mais do que tu possas imaginar.
Por ti tenho amor e não paixão, o amor é mais calmo, é mais contido talvez tenha sentido paixão um dia, tenha sentido a vontade louca de te ter mas a boa aluna não podia revelar o seu segredo e por tanto o abafar, por tanto fingir, a paixão serenou, ficou o amor! Um amor dúbio! Será que isso é amor?
E isto é tudo o que te queria dizer, tudo o que abafei por medo da resposta ser negativa. Talvez um dia tenha a coragem necessária de to revelar.


...por Blair Maria Randall.



2 comentários:

Unknown disse...

olá, muito obrigada pela publicacao...


xoxo

pat* disse...

carta brutal... e triste, que situação ! continuo a seguir o teu blog apesar de nao comentar ;)

beijinhos