quinta-feira, 28 de abril de 2011

Carta LXXIV

Amor, já não temos nada para dizer um ao outro. Tudo o que vivemos deixou simplesmente de fazer sentido. Ou melhor, nós deixamos que o fogo se extinguisse, acho que nos acostumamos a uma situação em que já não havia nada a fazer. O nosso amor não morreu de um dia para o outro, não, fomos nós que deixamos de o alimentar e fizemos com que ele esmorecesse. Já não bastam as palavras, já não bastam os actos de aparente insanidade, tudo o que tínhamos seguiu com a corrente e não há forma de o recuperar.
Os momentos em que nos amamos, sofregamente, já não podemos repetir. Seria até doloroso forçar algo que sabemos não ter possibilidades de voltar a atingir. A fusão dos nossos corpos era mágica e não pode, jamais, ser esquecido esse tempo que vivemos. E os pecados que cometemos, originais como o nosso desejo, foram sempre o fruto da nossa paixão e da vontade insaciável de nos entregarmos um ao outro. Mas agora tudo deixou de acontecer. As nossas mãos já não se unem com a mesma delicadeza, os nossos pensamentos já não fluem no mesmo sentido e até as nossas palavras se tornaram inúteis. Tudo em nós, um dia, pareceu perfeito. Como foi que nos deixamos chegar até aqui? Agora, já nada nos resta e até as promessas de amor que partilhamos se perderam algures no tempo...
Porque sonhar deixa de fazer sentido e viver se torna supérfluo, a realidade transforma-se em mera solidão. O calor dos lábios contra a pele deixa de existir e a força para recomeçar vai-se desvanecendo. Quando vejo um filme romântico ou um casal de mãos dadas na rua, penso como seria se fosse connosco, imagino situações e possíveis conversas. E depois, sozinha em casa, choro a falta de um abraço…



...por Ana.

4 comentários:

Pipoca dos Saltos Altos disse...

WOW...triste mas cheio. Cru mas verdadeiro. Adorei

Ana disse...

Luazinha, muito obrigada por teres publicado! :D

Morah disse...

Verdade, verdadeira, dolorosa mas simplesmente a verdade para muito boa gente...

Merenwen disse...

Gostei. Só tenho pena rever-me tanto neste texto, porque é tão verdadeiro.