Soube que já não te sentia em mim no dia em que visitei a tua campa e não chorei.
Pousei a mala, fui buscar o pano que está sempre atrás da lápide, molhei-o com um pouco de água e limpei a pedra de mármore linda, clarinha, que agora é o teu tecto. Limpei a tua lápide e a tua fotografia. Tirei as folhas secas das flores na jarra e pus a minha rosa branca, que comprei para ti, em cima da pedra. Acabei isto e olhei para a tua campa. Limpinha, bonita. E não chorei. Porque sei que não estás ali. Já foste, partiste. O teu corpo deve estar lá por baixo, mas a pessoa que conheci, aquele amigo fenomenal, aquele companheiro que sempre me ajudou em tudo, aquele rapaz que tinha todos os sonhos normais de um rapaz de 16 anos já não está ali, não existe.
Já não te sinto em mim, mas não de uma maneira má. Deixei de sentir a dor da tua ausência, a revolta da tua partida tão repentina, da vida que não viveste, da família que ficou destroçada, a raiva e angústia de saber que nunca mais te vou ver, tocar. Isso desapareceu. Agora Sinto-te em mim como uma força, um calor que me aquece o peito quando estou mais triste, uma presença sempre ausente, mas que se faz sentir em todo o momento. Agora és o meu anjo. O pássaro que pousa na minha janela. És o pôr do sol no rio Tejo. És um sorriso, um abraço, um beijo. Fazes parte do melhor que me aconteceu na vida.
Já não sinto que a tua morte foi aquilo que vou associar sempre ao teu nome. Desde aquele dia na tua campo que sei que irei recordar cada sorriso, cada palavra, cada brincadeira, cada conversa, como aquilo que tu realmente és, o meu Bruno.
Despeço-me de ti, morte, solidão, ausência, angustia, e dou as boas vindas às recordações, às memórias, ao sorriso que tenho sempre nos lábios quando penso em ti.
Não sei se um dia nos veremos, mas até lá, Até Já.
Vou viver a minha vida para honrar aquela que, eu sei, gostarias de ter vivido a meu lado.
...por Cláudia
3 comentários:
Que texto tão forte!
Fiquei mesmo com as lágrimas nos olhos...
Bem...sem palavras!
Aconteceu-me o mesmo que à Mia! :|
Que bonito... e ainda bem que já não o sentes em ti, dessa maneira boa :) as boas recordações prevalecem sempre connosco...
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