Rituais.

Eu e os meus amigos costumamos escrever post-it durante a nossa passagem de ano. Inicialmente, serviam para escrever os nossos desejos para o ano que estava prestes a começar mas com o decorrer da noite (e de algumas substâncias no nosso sangue) acabamos por escrever sobre as coisas que vemos, que vão passando por nós naquele momento, sobre pessoas que podem ou não estar ali. Fazemos declarações de amor e de amizade, utilizamos mais as palavras amor, trabalho, saúde do que em qualquer outro dia e escrevemos sobre o que nos magoa, o que não entendemos. Durante uma noite, somos mais revolucinários, apoiamos aqueles que à partida são marginalizamos e escrevemos coisas do estilo paz no mundo, o que faz de nós quase-misses. E é muito giro chegar lá no outro dia e pensar eu não escrevi aquilo, aquela nem sequer é a minha letra. Mas mais giro é chegar ao final do ano e lermos tudo de novo, o que desejamos e que agora não faz sentido, o que aconteceu de verdade - por exemplo, no ano passado escrevi um bilhete a dizer Benfica Campeão e aconteceu mesmo! - o que não fomos capazes de lutar. E fazemos uma cerimónia onde queimamos o ano que passou, onde queimamos os nossos desejos antigos para dar espaço a estes novos.